sábado, 10 de maio de 2008

mamis

Com ela aprendi que não importa o tamanho do tombo: sempre existirão aqueles que dirão que não passou de um tropeço.

Aprendi que cedo ou tarde temos que escolher entre sermos heróis dos outros ou herói da própria vida.

Que devemos ter em mente, sempre, o que é prioridade, o que é necessidade e o que é vontade, porque quando a prioridade é cumprida a alma descansa e se prepara para o vôo da necessidade ou a queda da vontade.

Que quando bebemos bastante vinho devemos beber bastante água.

Que um homem de coragem não é aquele que enfrenta um leão, mas aquele que não se culpa.

Aprendi a ler. Aprendi a amar os livros. Foi ela quem me deu asas embrulhadas em mimos como A bolsa amarela e Memórias de um cabo de Vassoura .

Com ela aprendi que só era possível aprender-se a partir da imaginação e da reinvenção de si mesmo.

Aprendi que o mundo não gira em torno do meu umbigo e que dinheiro não nasce em árvore.

Aprendi, aos 8 anos de idade, dentro de um corcel marrom, numa estrada do interior de São Paulo, que “o pôr de sol é o espetáculo mais lindo do mundo e o melhor de tudo, é de graça”, enquanto no toca fitas o som dela preenchia de ausências o carro.

Com ela aprendi a ouvir música brasileira, a não valorizar roupas de marca, nem julgar um livro pela capa.

Aprendi que o meu limite acaba onde começa o do outro e que às vezes o nosso melhor não é suficiente ou bom o bastante para os outros, mas que isso não quer dizer que não deva continuar dando o meu melhor, sempre.

Com ela aprendi que o medo não desaparece, mas pode encolher se nos permitirmos ser maior que ele.

Com ela aprendi que intenções não valem mais que palavras ou ações.

Com ela aprendi a não fumar. E ela aprendeu comigo a parar.

Por ela chorei e Choro de saudade, hoje, pela alegria de poder abraça-la e dizer “Te amo”.

Com ela e por ela aprendi a ser gente.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Eu não sou muitas..


Eu precisei rasgar meu rascunho para merecer carregar o sol na boca. Desisti dessa coisa pouca de ser. E não, eu não sou muitas. Essa coisa de ser muitas é para quem ainda conserva no rosto traços de um rascunho mal acabado.
Elas é que são muitas em mim: as dores, as vontades, as idades, as divas, as serpentes, as santas, as giras, as divindades. O que penso que sou é apenas um reflexo e como todo reflexo, é efêmero.
Esquece! Eu não sou cantora, eu não sou poeta, eu não sou escritora, eu não sou atriz. Eu sou o que eu quiser ser. E isso depende muito do dia, da roupa, da voz, do chapéu, do anel na 'capa do livro'.
Tem dias que não quero ser nada e nada sou. Ninguém me reduz a nada, porque nada sou quando quero, e não tenho medo de nada ser, porque gosto de escolher minhas misérias.
O sol que nasce em minha boca é o mesmo que se põe em meu umbigo. Então, não preciso me preocupar com nenhum tipo de perigo: sei onde tudo começa e acaba em mim e aprendi que algumas aflições requerem poderosos óculos escuros e filtro solar e que às vezes é inevitável se manchar de vermelho.
E se o vermelho me laça como um lenço de seda no vento, danço com ele. Ás vezes ele arde, noutras enfeita minhas bochechas que vez ou outra ficam carentes da vida.
Aceito. Obedeço. É loucura questionar o vermelho. É loucura lutar contra ele. Mais sábio é tirar dele alguns metros de sol poente e vestir-se de amplidão.
Eu não sou muitas. Sou apenas alguém que aceita as cores como elas são.

terça-feira, 6 de maio de 2008