sexta-feira, 9 de maio de 2008
Eu não sou muitas..
Eu precisei rasgar meu rascunho para merecer carregar o sol na boca. Desisti dessa coisa pouca de ser. E não, eu não sou muitas. Essa coisa de ser muitas é para quem ainda conserva no rosto traços de um rascunho mal acabado.
Elas é que são muitas em mim: as dores, as vontades, as idades, as divas, as serpentes, as santas, as giras, as divindades. O que penso que sou é apenas um reflexo e como todo reflexo, é efêmero.
Esquece! Eu não sou cantora, eu não sou poeta, eu não sou escritora, eu não sou atriz. Eu sou o que eu quiser ser. E isso depende muito do dia, da roupa, da voz, do chapéu, do anel na 'capa do livro'.
Tem dias que não quero ser nada e nada sou. Ninguém me reduz a nada, porque nada sou quando quero, e não tenho medo de nada ser, porque gosto de escolher minhas misérias.
O sol que nasce em minha boca é o mesmo que se põe em meu umbigo. Então, não preciso me preocupar com nenhum tipo de perigo: sei onde tudo começa e acaba em mim e aprendi que algumas aflições requerem poderosos óculos escuros e filtro solar e que às vezes é inevitável se manchar de vermelho.
E se o vermelho me laça como um lenço de seda no vento, danço com ele. Ás vezes ele arde, noutras enfeita minhas bochechas que vez ou outra ficam carentes da vida.
Aceito. Obedeço. É loucura questionar o vermelho. É loucura lutar contra ele. Mais sábio é tirar dele alguns metros de sol poente e vestir-se de amplidão.
Eu não sou muitas. Sou apenas alguém que aceita as cores como elas são.
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